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Sobre tâmaras, petróleo, fertilizantes e terras raras



Diz uma velha história que uma pessoa que planta tamareiras não irá colher tâmaras, porque o prazo para essa árvore começar a dar frutos passaria de 80 anos.



Se tem um país em que essa história é válida, esse país é o Brasil.



Quando é hora de arriscar?



Nosso país é historicamente complicado de se pensar no futuro. Já foi mais complicado, mas não deixa de ser no tempo atual.



Sim, a coisa já foi mais complicada: a moeda mudou diversas vezes, a inflação nos forçava a pensar apenas no dia de amanhã (e depois de amanhã já era luxo) e até confisco de poupança aconteceu. Hoje é mais tranquilo, apesar de todos os problemas que temos.

Mas uma coisa que, seja por herança desses tempos sombrios em que a previsibilidade era diária ou de algum hábito muito ruim que nutrimos por aqui desde que o país existe, é verdade: quem olha para um prazo mais esticado para tomar decisões costuma ser encarado como maluco.



E se isso é visto como loucura em iniciativa privada, quando envolve qualquer âmbito público então, começa a entrar ainda em um campo ainda mais pantanoso. Não precisava ser assim, mas é como acontece.



Pré-sal: de patinho feio a príncipe do baile



O ano era 2008. A maior crise desde 1929 explodia nos EUA. E, no Brasil, a Petrobras anuncia uma descoberta importante: em uma camada mais profunda do que o usual (de nome pré-sal), havia uma quantidade relevante de petróleo. O problema? Não havia tecnologia para exploração disso ainda.



Esse impasse, abusando na simplificação, seria a representação de uma clássica ação de marketing da 3M, só que em versão petrolífera:

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Tivemos empresas do setor vindo ao Brasil para analisar a viabilidade dessa exploração. Basicamente todas elas disseram a mesma coisa: não era viável financeiramente. O dinheiro do óleo negro ficaria dentro do vidro (ou melhor, abaixo da camada de sal do oceano).



Muitos bilhões de reais em pesquisa realizada pela Petrobras depois - e diversos anos, e desconfiança, e Lava Jato e tudo… Não só conseguimos descobrir como viabilizar essa exploração como, na atualidade, 79,6% de tudo que produzimos de derivados de petróleo advém da exploração daquilo que era, aos olhos das maiores empresas do mundo no setor, financeiramente inviável.



Hoje é fácil falar que “era só pesquisar”, mas muita gente e muita empresa trucou que isso fosse acontecer.



Fertilizantes: “escolha política”



O setor mais produtivo da economia brasileira é o agro. E o agro depende de insumos específicos para ser tão produtivo - dentre eles, os fertilizantes.



Atualmente, boa parte desses insumos são importados, de países como a Rússia, inclusive.



A pergunta de tâmaras dessa vez talvez seja: por qual motivo o Brasil ainda não correu atrás de reduzir a dependência de insumos em seu setor mais produtivo?



Nos últimos anos, duas iniciativas aconteceram para tentar avançar nessa agenda: a primeira, em 2022, foi quando o Ministério da Agricultura do governo Bolsonaro criou o Plano Nacional de Fertilizantes, que buscava reduzir a dependência de importação de fertilizantes durante uma janela de 28 anos e, mais recentemente, em 2025, a Petrobras retomou fábricas que estavam com a iniciativa privada desde 2019/2020 por dificuldades financeiras.


Se as duas iniciativas são continuadas ou não, fato é que ambas buscam reduzir essa dependência que nosso setor mais produtivo tem. Porém, no caso da mudança mais recente, uma curiosa reação acontece: considera-se que a ideia seria apenas questão política e, veja só que curioso, não teria interesse comercial.

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O que seria mais interesse comercial do que reduzir a dependência de itens essenciais ao setor mais produtivo do país? Será que seria melhor tentarmos uma nova Sete Brasil para pela milésima vez tentarmos virar uma potência no setor naval, ou mesmo dar mais alguns bilhões ao setor automotivo para finalmente nascer a Gurgel que venceria a BYD por aqui?



Terras raras: a próxima tamareira impossível/inviável



Pré-sal passou de patinho feio a príncipe do baile, fábricas de fertilizantes estão no estágio atual de “escolha política” e no futuro muito provavelmente se mostrarão como “aposta acertada desde o começo”.



Mas existe uma fronteira adicional que está no olho do furacão e que, com chances elevadíssimas, também será considerado inicialmente como “politicagem barata”: a questão das terras raras.



De maneira bastante simplificada, existem dois pontos que importam quando o assunto são as terras raras: a disponibilidade física delas e o tratamento que faz com que esses itens se tornem úteis para a tecnologia de ponta que temos no mundo hoje. Em termos dessa oferta, o Brasil é líder. Mas na exploração, ainda engatinhamos - temos empresas do setor, mas com uma capacidade bem reduzida.


Recentemente, o governo Lula colocou a questão na mesa:

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Tudo ainda está muito recente, mas, baseando-se no histórico típico brasileiro de “não vale arriscar” precedendo “pô, ainda bem que arriscaram”, temos aqui a nova tamareira impossível.



Ninguém está dizendo aqui que essa iniciativa sozinha será a salvação da lavoura - sim, piada intencional -, até porque existe mesmo uma chance de que tal conselho tenha sido colocado nesse momento mais porque esse assunto está em voga do que por motivação real.



Em todo caso, vale o pensamento: por qual motivo se encara com tanta desconfiança a iniciativa pública de longo prazo se é justamente o Estado que, se feito de forma bem engendrada, consegue sustentar um curto prazo não financeiramente viável até que tal viabilidade vire realidade? 



Ou, mais diretamente: é melhor ver o dinheiro dentro do vidro e lamentar ou arriscar com a ciência algum jeito de acessar esse recurso?



Não se prenda a “esse governo” ou “esse presidente”. Esse tipo de crítica é atemporal em nosso país. Aqui apenas elencamos três exemplos do final dos anos 2000 até agora, mas se olharmos em outros setores e em outras janelas temporais diversos outros exemplos aparecerão.



Ah, e uma informação final um tanto quanto surpreendente: na realidade a tal sabedoria dos antigos não é tão verdadeira assim; tâmaras não demoram 80 anos para aparecer, com cerca de 10 anos (e em alguns casos apenas dois anos) os frutos já podem ser avistados.



O que será que poderá nos tirar do eterno ciclo de descrença das tamareiras?



Até a próxima edição!

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